segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Jovens nordestinos seguem em caravana rumo ao Fórum Social Mundial

A Caravana de Comunicação e Juventudes é fruto de uma parceria entre organizações e movimentos sociais da região Nordeste, que sairá das cidades do Recife, Fortaleza, Natal e Salvador rumo a Belém-PA, onde irá acontecer o IX Fórum Social Mundial, em janeiro de 2009. Tem como objetivo central favorecer espaços de formação e intercâmbio de saberes, práticas e experiências em comunicação e educação popular entre os jovens.
As articulações dos quatro estados (Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia) se encontrarão em Teresina-PI, com intuito de realizar intercâmbios sócio-político-culturais.

Para sua estruturação, o conjunto de organizações e movimentos que compõem a Caravana formou um Grupo Gestor que desenvolve desde janeiro de 2008 ações preparatórias, por meio de reuniões e seminários que tratem das atividades a serem realizadas pelos jovens durante o Fórum Social Mundial. Estão entre essas atividades oficinas de comunicação (rádio, fanzine, vídeo, fotografia), cines-debates e rodas de diálogo com eixos temáticos (protagonismo juvenil, gênero, desenvolvimento sustentável, direito à comunicação, democratização da terra, direito à educação). Durante estes momentos, o modelo de gestão participativa, construído através do protagonismo juvenil vivenciado nessas organizações, é partilhado e disseminado de forma criativa e animadora.

O impacto central que se espera do Projeto é que o intercâmbio influencie positivamente a ação educativa dos jovens nordestinos, sujeitos de direito e protagonistas, e que contribua com a ampliação de sua capacidade organizativa, mobilizadora, propositiva, de participação e intervenção junto aos espaços públicos na busca por melhorias na qualidade de suas vidas e de suas comunidades.

Membro de Honra - Torne se membro de honra da Caravana e contribua com a visibilidade das realidades nordestinas, com foco para um mundo melhor. Publicaremos todos os nomes dos Membros de Honra no site e enviaremos a cada membro de honra uma cópia do documentario que será realizado durante a Caravana. Você se torna membro de honra a partir de 50 reais no Brasil, ou 20 Euros na Europa.

www.caravanadacomunicacao.org.br


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Com Ciência de Cumade


As poetas Luciana Rabelo e Anaíra Mahin conquistaram o1º lugar na 3ª Recitata , realizada pela Prefeitura do Recife, durante o ‘Festival Recifense de Literatura A Letra e a Voz’ 2008. A poesia “Com Ciência de Cumade”, de autoria das poetas, levou o principal prêmio nos dois júris (especializado e popular).

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Pesquisa mostra que rádios veiculam publicidade de bebidas ilegalmente


Por Rosário Pompéia, do Centro de Cultura Luís Freire

Nove emissoras de rádio do Recife desrespeitam aberta e sistematicamente a legislação que proíbe a publicidade de bebidas alcoólicas de alto teor das 6 às 21 horas. Está foi uma das conclusões do relatório apresentado nesta segunda-feira, 14 de julho, pelo Observatório de Mídia Regional, grupo de pesquisa do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco.

O estudo foi realizado durante seis meses e comprovou que a incidência de irregularidades varia de 45 segundos a 135 minutos semanais em anúncios em forma de spot, jingle e testemunhal nas rádios JC/CBN; Transamérica, Recife FM, Clube FM, 102 FM, 103 FM, Clube AM, Rádio Jornal e Rádio Olinda. Na lista das bebidas encontram-se as cachaças Pitú e 51, as vodkas Orloff e Bolvana, o rum Montilla e toda a linha da marca Bebidas D’Ouro (cachaças, licores, conhaques e rum), sendo que as agências responsáveis pelas irregularidades são a Ampla, GrupoNovo, Loducca e Ogilvy.

O relatório final da pesquisa Publicidade de Bebidas Alcoólicas nas Rádios do Recife foi entregue publicamente ao Ministério Público do Estado de Pernambuco, Agência Nacional Vigilância Sanitária (Anvisa), Vigilância Sanitária da Prefeitura do Recife, Secretária de Saúde do Recife, Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Regional de Psicologia, Conselho Regional de Medicina e várias organizações não-governamentais ligadas a questões de infância, violência e direitos humanos.
O coordenador da pesquisa, o Prof. Dr. Edgard Rebouças informou ainda que além do desrespeito à lei 9.294/1996, emissoras, agências e anunciantes também desrespeitam o Código de Auto-regulamentação Publicitária, “em uma demonstração clara que fora do eixo Rio-São Paulo-Cannes o Conar não tem nenhuma influência”.

Para a representante da Gerência de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda (GPROP) da Anvisa, Fernanda Cruz, a pesquisa tem relevância como subsídio para o trabalho do órgão, ressaltando a dificuldade de monitoramento das mídias regionais. “De posse destes dados levantados aqui em Recife já vamos preparar os processo de autuação dos responsáveis” disse ela. Já o promotor Marco Aurélio Farias, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Cidadania do Ministério Público de Pernambuco informou que encaminhará a pesquisa para os promotores abrirem os processos e que convidará todas as empresas listadas no relatório para uma audiência pública na sede do MPPE.
A advogada Renata Rolim, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PE, reforçou a importância do controle social na mídia pernambucana; e o psicólogo Ednaldo Pereira, do Conselho Regional de Psicologia reafirmou a parceria com o Observatório da Mídia Regional para futuros estudos envolvendo comunicação e subjetividade.

As penalidades para o descumprimento da lei 9.294/1996 são de advertência; suspensão de qualquer outra propaganda do produto por até trinta dias; obrigatoriedade de veiculação de retificação ou esclarecimento; apreensão do produto; multa de R$ 5.000,00 a R$ 100.000,00; e suspensão da programação da emissora por dez minutos para cada minuto de veiculação ilegal.
O relatório estará disponível na íntegra no site www.ufpe.br/observatorio .

terça-feira, 17 de junho de 2008

Onde está o muro?

Por Irma Brown

irmaventilador@gmail.com

Recentemente estive visitando as cidades de Santiago do Chile e Valparaíso, esta última fica a uma hora e meia da capital. O Chile é uma terra de contrastes geográficos “muy grandes” e “muy lindos”. E olhe que eu não conheci quase nada! Caminhando pelas ruas de Santiago, com sua arquitetura colonial e moderna, enxergamos a cordilheira dos Andes em diversos ângulos. Já Valparaíso, é uma cidade portuária e cheia de cerros, conhecida também pela concentração de artistas. É meio Olinda (forçando a barra um pouquinho).

Para o brasileiro que sai à noite, chama a atenção o fato de não ser permitido beber nas ruas, e os estabelecimentos só podem vender bebidas até meia-noite durante a semana e 3h da manhã no fim de semana. Portanto, eu que estava dançando loucamente numa boate, fui surpreendida quando as luzes acenderam de repente e todos foram convidados a se retirarem. Para os inconformados restam os “afters”, os bares clandestinos.

É um país bastante conservador. Com sua maioria de católicos, guardam hipocrisias elitistas. O divórcio, por exemplo, só foi permitido no ano passado. Antes era “anulacion”, como se o casamento não tivesse existido. Claro que os chilenos não são os únicos, influências do catolicismo, boas e más, sofremos todos, todavia lá me pareceu mais forte.

Diferente do Brasil, que concentra sua riqueza entre o sul e sudeste, o Chile consegue manter aparentemente um equilíbrio econômico entre suas regiões. Existem dificuldades similares às nossas, como a desigualdade social e o monopólio das comunicações, mas não se vê tanta violência e pobreza nas ruas. Se vê protestos, isso sim. Mesmo sofrendo repressão dos carabineiros, os estudantes saem às ruas lutando por uma educação mais justa; também a polícia não é tão corrupta como a nossa. A lembrança da ditadura é muito forte e presente, fazendo dos chilenos um povo patriota e bem mais engajado politicamente que a gente.

Talvez pela dimensão do Brasil e por falarmos uma língua diferente, nós, os gigantes da América Latina, ainda permanecemos isolados dos nossos queridos vizinhos. Como no resto do mundo, somos conhecidos por sermos um povo alegre, que joga futebol e tem mulheres bonitas; portanto “bienvenidos” entre os chilenos. O que não acontece com os peruanos, que herdam preconceitos sofridos pela guerra do pacífico (assim como os bolivianos) e buscam no Chile novas oportunidades, mas muitas vezes acabam ficando à margem da sociedade.

De qualquer forma, existe sim um interesse mútuo e latente entre nós (latinos) na troca de conhecimento e cultura. Já cansamos de olhar pra cima! A troca pode ser lado a lado; e é necessária. Temos um sentimento de solidariedade por enfrentarmos dificuldades comuns em um continente que é o irmão mais novo, e que sempre dança. Mas até que a gente dança parecido.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Cazá, cazá, cazá, cazá, cazá...

Por Luciana Rabelo

luciana.rabelo@gmail.com

Não sou muito de futebol. Já torci em algumas copas do mundo, mas as últimas duas – principalmente a última – não estava nem aí. Tava era com um abuso grande de tudo relacionado à Copa. Só conseguia enxergar o lado comercial e nada mais. Não entendia como o povo podia ser tão besta pra parar suas vidas por conta daquilo.

Pois bem, ontem algo de estranho comigo ocorreu. Quando saí de casa de manhã rumo ao trabalho, liguei o rádio do carro e comecei a ouvir as expectativas para a final da Copa do Brasil. O Sport e o Corinthians se enfrentariam na Ilha do Retiro, no Recife. No caminho já peguei um engarrafamento porque me encontrava justamente na rua do hotel onde o pessoal do Corinthians estava. Lá na frente do hotel um grupo de paulistanos se exibiam vestidos com as cores de seu time. No rádio, escutava entrevistas com alguns paulistanos irados porque, segundo eles, o Sport havia disponibilizado poucos ingressos para torcida do Corinthians.

Comecei então a me indignar. Por que lá na casa deles eles podem fazer o que querem e aqui chegam cheios de ‘goga’, dizendo que vão entrar de qualquer jeito e tal. Eu que nunca fui a um estádio de futebol, e que - apesar de dizer desde criança ser torcedora do Sport – nunca me interessei em acompanhar os jogos, começava a sentir uma imensa ansiedade e vontade de que o Sport vencesse o Corinthians, ou melhor, que o Nordeste vencesse o Sudeste.

Na hora do almoço, em companhia de minha amiga Patrícia (esta rubro-negra ‘doente’) passamos em frente a uma loja de roupas e lá estavam expostas diversas camisas do Sport. Imediatamente me deu vontade de comprar uma. Patrícia, claro, mesmo sem dinheiro, topou na hora comprar uma também. Já saímos de lá paramentadas.

O resto do dia fiquei acompanhando pelo rádio a movimentação em torno do jogo. O Recife tava pegando fogo, havia de fato uma energia diferente no ar e nas ruas. Quando cheguei em casa, meu filho de 1 ano me recebeu, inocentemente, com a roupa do Sport.

Chegou a hora do jogo. Meu coração tava doido. A partida começou, mas eu não conseguia ouvir a torcida. Claro, assistia a TV Globo! Incrível, mas eles ousavam dar mais destaque à torcida do Corinthians (com menos de 1500 torcedores) do que à do Sport, com mais de 33 mil torcedores rubro-negros. Mudei de canal, mas, sinceramente, também não gostei da transmissão da Band.

Minha alegria começou a aumentar logo após o início do jogo, pois era evidente a superioridade do time pernambucano na partida. Praticamente o tempo todo com a bola nos pés, os rubro-negros se garantiram e fizeram os dois gols que precisavam para ganhar a partida logo no primeiro tempo. Fiquei parecendo uma abestalhada, pulando e sorrindo, e sem poder gritar pra não acordar o pequeno rubro-negro que dormia. Mas ele acordou!

Meu companheiro, que é do Paraná e torce pelo Inter, já vinha acompanhando a campanha do Sport e, aqui pra nós, nunca vi ele torcendo tanto nem pro Colorado, como torceu ontem pro Sport.

No segundo tempo, toda vez que o Corinthians pegava na bola eu saía de frente da televisão, tamanho era o meu nervosismo. Por fim, vitória nossa. Em todos os sentidos.

Hoje acordei, catei a blusa do Sport, vesti e fui trabalhar como uma autêntica rubro-negra. Não fui só eu. Pernambuco se vestiu de vermelho e preto e o hino do timão pernambucano ecoava em tudo que é buzina. Na rua, a cada dez metros se via, sem exagero, pelo menos, uma pessoa com a roupa do Sport. Foi lindo!

Quando cheguei no trabalho, no quadro de aviso encontrei escrito por minha chefa, Amara Cunha :

“O Corinthians caiu na Ilha e se ... ‘perdeu’!

Os gaviões quebraram o bico

Na muralha do Magrão

E a fiel não segurou a força

E a raça do Leão.

É campeão! É campeão!

Só rubro-negro pode sentir essa emoção!!!

Sport, Sport, Sport!”

Ao chegar em casa, li e-mail do amigo alvi-rubro Jorge Filó, que, dizendo-se orgulhoso do Sport, cordelizou:

“O Sport pernambucano
Time de grande altivez
Sempre lutou bravamente
Chegou então sua vez
Mostrando que paulistano
De Pernambuco é freguês.

Política e futebol
São os calos paulistano
Na política perderam
Lula é pernambucano
E o Sport lascou
O time corintiano.

Bufe quem quiser bufar
Que a Rubro-negra nação
Vai fazer a sua festa
Vibrando com o coração
Mesmo que esta não seja
Vista na televisão.”

terça-feira, 27 de maio de 2008

A inclusão social passa pelo direito à comunicação

Por Iriny Lopes - Observatório do Direito à Comunicação

O acesso a informações e a oportunidade de produção de conteúdos, além da garantia de difusão e distribuição são princípios fundamentais no debate sobre a democratização da comunicação. O Brasil está longe de ter uma mídia independente e democrática. O mercado de TV é controlado por seis grandes grupos, que movimentam anualmente cerca de US$ 3 bilhões, sendo que quase metade desse total (US$ 1,59 bilhão) está concentrada nas mãos da Rede Globo. Segundo relatório da Article 19, que atua na promoção e proteção ao direito à liberdade de expressão, são essas seis empresas que controlam a informação “em conjunto com seus 138 grupos afiliados, um total de 668 veículos midiáticos (TVs, rádios e jornais) e 92% da audiência televisiva - a Globo, sozinha, detém 54% da audiência da TV (em um país em que 81% da população assiste TV todos os dias, numa média de 3,5 horas por dia)".

leia o texto completo no link abaixo:
http://www.direitoacomunicacao.org.br/novo/content.php?option=com_content&task=view&id=3349

terça-feira, 20 de maio de 2008

Agentes comunicadores no interior pernambucano

Por Luciana Rabelo

Semana passada participei de um bate-papo com 40 jovens no Serta (Serviço de Tecnologia Alternativa), no município pernambucano de Glória do Goitá, localizado na Zona da Mata, a 46 km do Recife. Os jovens, a maioria filhos de agricultores, são moradores de Pombos, Feira Nova, Lagoa de Itaenga e Glória do Goitá.

Foi uma manhã muito agradável, onde pude trocar com eles conhecimentos acerca da comunicação como um direito humano. Os jovens participaram ativamente, sempre perguntando e opinando. Foi muito bom ver que a discussão sobre comunicação está extrapolando grupos localizados no Recife e Região Metropolitana e ganhando o interior do Estado.

Conversamos sobre o monopólio da mídia, rádios - comerciais, piratas, comunitárias e livres -, mídias digitais e o uso que fazemos delas, baixaria na TV (Big Brother, Cardinot...), a importância da luta por políticas públicas de comunicação, a comunicação comunitária, pirataria, o que fazer para sermos agentes comunicadores, enfim, durante duas horas refletimos juntos sobre muitas questões relacionadas à nossa midiatizada sociedade.

Fiquei muito feliz quando, ao final do bate-papo, uma jovem me procurou e disse que a cabeça dela estava explodindo de idéias. Senti, naquela manhã, que nossa luta pelo direito humano à comunicação vale a pena!

Parabéns ao Serta pelo projeto de Formação em Agentes de Desenvolvimento da Comunicação.

http://www.serta.org.br

quinta-feira, 10 de abril de 2008

RÁDIOS COMUNITÁRIAS: "SEM A NOSSA VOZ NÃO HÁ DEMOCRACIA".

Nota Informativa das RÁDIOS COMUNITÁRIAS
ao povo pernambucano

No último dia 17 de março, a Polícia Federal e a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL percorreram a região metropolitana do Recife e o interior do estado, com 18 equipes, na chamada operação: "Segurança no Ar!", segundo uma denúncia de interferência na comunicação do Aeroporto Internacional dos Guararapes. Esta ação foi amplamente divulgada pelas televisões, rádios e jornais locais, nos acusando de CLANDESTINIDADE, de colocarmos em risco o TRÁFEGO AÉREO e de CONCORRÊNCIA DESLEAL.

Informamos que não somos clandestinas, pois toda a comunidade sabe nosso endereço, além de nos dar LEGITIMIDADE na defesa dos direitos e na prática diária do exercício da comunicação comunitária.

Não interferimos no tráfego aéreo, pois nossos equipamentos são AUTORIZADOS E HOMOLOGADOS pelo Ministério das Comunicações, que determina a potência de 25wts conforme a legislação federal. As rádios comerciais, por exemplo, trabalham com potências MAIORES. Como sustentar esta informação se dos 56 mandados, apenas 6 rádios estavam em torno do Aeroporto, e quantas destas derrubaram aviões? Respondemos: NENHUMA!

Quanto à concorrência desleal, nota-se o pouco conhecimento acerca das rádios comunitárias, pois lutamos para garantir a sustentabilidade através
dos apoios culturais, que nos ajudam a pagar as despesas de água, luz e telefone. Somos voluntários e voluntárias, como determina a Lei das Rádios Comunitárias (9.612/98).

Nossa existência surgiu, justamente da necessidade de desenvolver atividades que contribuíssem para transformar a comunidade e potencializar essa transformação para fortalecimento e consciência dos moradores e moradoras na busca de sua identidade cultural e política, através de sua própria voz.

Agradecemos a todos e todas que compreendem o nosso papel, que nos incentivam, que nos defendem nas comunidades e contribuem no dia-a-dia com a nossa existência.

Agradecemos também, aos movimentos sociais, aos artistas independentes, as ONG's, as entidades nacionais e internacionais que defendem o direito humano a comunicação e aos parlamentares que defendem em seus mandatos a luta das rádios comunitárias.

Agradecemos a nossa família que ao longo desses anos tem sofrido conosco, a perseguição promovida pelas campanhas freqüentes da grande mídia, que nos humilha e criminaliza pelo fato de estarmos exercendo legitimamente o nosso direito a comunicação, conforme determina a Constituição Federal de 1988.


VIVA AS RÁDIOS COMUNITÁRIAS!
VIVA O DIREITO HUMANO À COMUNICAÇÃO!

ABRAÇO-PE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RADIODIFUSÃO COMUNITÁRIA - PE
AMARC- ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS
FERCOM – FEDERAÇÃO DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS DE PERNAMBUCO
ARPPE - ASSOCIAÇÃO DAS RÁDIOS POPULARES DE PERNAMBUCO.


ATENÇÃO
Ato Público em defesa das rádios comunitárias no dia 25 de Abril de 2008
.
Concentração às 14h na Praça Oswaldo Cruz, em frente à Fusam.
A caminhada sai às 15h e segue até a Praça do Carmo, no Centro de Recife.



terça-feira, 8 de abril de 2008

Manifesto da Mídia Livre

O setor da comunicação no Brasil não reflete os avanços que ao longo dos últimos trinta anos a sociedade brasileira garantiu em outras áreas. Isso impede que o país cresça democraticamente e se torne socialmente mais justo.

A democracia brasileira precisa de maior diversidade informativa e de amplo direito à comunicação. Para que isso se torne realidade, é necessário modificar a lógica que impera no setor e que privilegia os interesses dos grandes grupos econômicos.

Não se pode mais aceitar que os movimentos sociais que conquistaram muitos dos nossos avanços democráticos sejam sistematicamente criminalizados, sem condições de defesa, pela quase totalidade dos grupos midiáticos comerciais. E que não tenham condições de informar suas posições com as mesmas possibilidades e com o mesmo alcance à disposição dos que os condenam.

Um Estado democrático precisa assegurar que os mais distintos pontos de vista tenham expressão pública. E isso não ocorre no Brasil.


Também precisa criar um amplo e diversificado sistema público de comunicação, no sentido de produzido pelo público, para o público, com o público. Tal sistema deve oferecer à sociedade notícias e programação cultural para além da lógica do mercado.

Por fim, um Estado democrático precisa defender a verdadeira liberdade de imprensa e de acesso à informação, em toda sua dimensão política e publica. E ela só se dá quando cidadãos e grupos sociais podem ter condições de expressar idéias e pensamentos de forma livre, e de alcançar de modo equânime toda a variedade de pontos de vista que compõe o universo ideológico de uma sociedade.

Para que essa luta democrática se fortaleça, os que assinam este manifesto convidam a todos que defendem a liberdade no acesso e na construção da informação a participarem do 1º Fórum da Mídia Livre, que se realizará na Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias 16 e 17 de maio de 2008.

Os que assinam esse manifesto apresentam a seguir algumas propostas, preocupações e idéias, que, entre outras, serão debatidas no Fórum de Mídia Livre.

Nos declaramos a favor de que:

- O Estado atue no sentido de garantir a mais ampla diversidade de veículos informativos, da total liberdade de acesso à informação e do respeito aos princípios da ética no jornalismo e na mídia em geral;

- Realize-se com a maior urgência a Conferência Nacional de Comunicação que discutirá, entre outras coisas, um novo marco regulatório para o setor, com o objetivo de limitar a concentração do mercado e a formação de oligopólios;

- A inclusão digital seja tratada com a prioridade que merece e que o investimento nela possibilite o acesso a canais em banda larga a toda a população, para que isso favoreça redes comunitárias (WiFi) e faixas em espectro livre;

- As verbas de publicidade e propaganda sejam distribuídas levando em consideração toda a ampla gama de veículos de informação e a diversidade de sua natureza; que os critérios de distribuição sejam mais amplos, públicos e justos, para além da lógica do mercado; e que ao mesmo tempo o poder público garanta espaços para os veículos da mídia livre nas TVs e nas rádios públicas, nas suas sinopses e meios semelhantes;

- O Estado brasileiro atue no sentido de apoiar as iniciativas das rádios comunitárias e não o contrário, como vem acontecendo nos últimos anos;

- O Estado brasileiro considere a possibilidade de a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos atue na área de distribuição de periódicos, criando uma nova alternativa nesse setor;

- O Cade intervenha no atual processo de concentração de distribuição de periódicos impressos, evitando a formação de um oligopólio que possa atingir a liberdade de informação;

- A Universidade dê sua contribuição para a democracia nas comunicações, em seus cursos de graduação e pós-graduação em Comunicação Social, formando profissionais críticos que possam contribuir para a produção e distribuição de informação cidadã;

- A revisão do processo de renovação de concessões públicas de rádio e TVs, já que nos moldes atuais ele não passa por nenhum controle democrático, o que possibilita pressões e negociações distantes dos idéias republicanos, levando à formação de verdadeiras capitanias hereditárias na área;

- A sistematização e divulgação de demonstrativos dos gastos com publicidade realizados pelo Judiciário, pelo Legislativo e pelo Executivo, nas diferentes esferas de governo;

- A definição de linhas de financiamento para o aporte tecnológico e também para a constituição de empreendimentos da mídia livre e sem fins lucrativos com critérios diferentes do que as concedidas à mídia corporativa e comercial; e que isso seja realizado com ampla transparência do montante de recursos, juros e critérios para a obtenção de recursos;

- Que haja condições para que o movimento social democrático brasileiro e também os veículos da mídia livre mobilizem recursos e esforços para constituir um portal na Internet, um portal capaz de abrigar a diversidade das expressões da cidadania e de garantir a máxima visibilidade às iniciativas já existentes no ciberespaço.

domingo, 6 de abril de 2008

Encontro 'Mídia Alternativa' no Recife

O Encontro Mídia Alternativa chega ao Recife na quarta-feira, dia 09 de abril. O evento pretende discutir e articular a agenda da democratização dos meios de comunicação no Brasil, da produção e do acesso às mídias. Um dos participantes é Joaquim Palhares, da Agência Carta Maior. O encontro será realizado, às 19h, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap -Bloco A, 5º andar, sala 510). O acesso é gratuito e não é necessário fazer inscrição. O encontro tem apoio do Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), Unicap, Observatório da Mídia Regional - UFPE, Sinos e Fórum Pernambucano de Comunicação (Fopecom).

Já foram realizadas reuniões em São Paulo e Porto Alegre. O Encontro Mídia Alternativa ainda será realizado em Belém, Fortaleza, Recife, Aracaju e Salvador e Rio de Janeiro.

O Encontro Mídia Alternativa foi criado por jornalistas, professores universitários e profissionais da comunicação de várias regiões do país, que se reuniram em São Paulo para debater a situação da mídia no Brasil. Na reunião, consolidou-se a idéia de criar um espaço de encontro e articulação em nível nacional. Um dos princípios básicos que norteia esses debates é fortalecer a diversidade de informações, novas mídias, práticas, discursos, conceitos, políticas.

Serviço:

Encontro Mídia Alternativa
Data: 09 de abril em Recife, às 19h
Local: Universidade Católica de Pernambuco (Bloco A, 5º ANDAR, SALA 510)
Acesso gratuito - não é necessário realizar inscrição

Agenda – Encontro de Mídia Livre
07 de abril em Belém, na Universidade do Pará;
08 de abril em Fortaleza, na Universidade do Ceará;
10 de abril em Aracaju, em local ainda a ser definido;
11 de abril em Salvador, na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

terça-feira, 1 de abril de 2008

Rádios comunitárias de Pernambuco se organizam após ação da Polícia Federal e Anatel

Por Mariana Martins, para o site Observatório do Direito à Comunicação

Pouco mais de uma semana após a ação da Polícia Federal que fechou 30 rádios consideradas “ilegais” em Pernambuco, o movimento de rádios comunitárias no estado dá início a uma contra-ofensiva ao que consideram a criminalização da atividade. Mais de 70 pessoas, incluindo representantes de 34 emissoras comunitárias, participaram nesta quinta (27) da audiência pública convocada pela Federação de Rádios Comunitárias de Pernambuco (Fercom-PE), pela Associação de Rádios Comunitárias Pernambucanas e pela Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço).

No evento, realizado na Câmara dos Vereadores do Recife, as três organizações decidiram promover uma passeata pelo centro da capital. A data ainda não foi definida, mas o ato deve ocorrer nos próximos dias. As emissoras pernambucanas também aventam a possibilidade de uma marcha a Brasília.

A ação da PF, intitulada de “Segurança no ar”, tentou cumprir mandados de busca e apreensão dos equipamentos de 56 rádios que funcionam sem outorga no Recife e em outras cidades da região metropolitana. Não faltaram recursos para isso: foram mobilizados 60 policiais federais, distribuídos em 18 equipes.

No entanto, a Agência Nacional das Telecomunicações, responsável pela fiscalização, não conseguiu fechar todas as rádios. Duas funcionavam com liminar concedida pela Justiça e outras 24 estavam fechadas no momento da apreensão, algumas desde a realização de outras ações da PF com a Anatel. Quatro pessoas foram levadas para a sede da Polícia Federal no Recife e tiveram que prestar depoimento sobre as atividades que desenvolviam nas rádios.

Segundo a Anatel, a operação foi feita para garantir a segurança no Aeroporto Internacional dos Guararapes, que funciona no Recife, e que, de acordo com a agência, estava sofrendo com a interferência dos sinais das rádios, denominada por eles de piratas. “A única coisa que as rádios comunitárias derrubam é a audiência das rádios comerciais”, gritou uma pessoa durante a audiência, sendo aplaudida pelos demais.

De acordo com Manina Aguiar, do Fórum Pernambucano de Comunicação, a argumentação da Anatel é uma falácia. Ela cita inclusive pesquisas do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) que desmistificam esta acusação.

“Quero ouvir apenas um caso de acidente causado pela dita interferência das rádios comunitárias”, desafiou Manina. “Se de fato houvesse interferência não haveria o processo de legalização das rádios, porque as outorgadas também interfeririam. Mal dá para ouvir no nosso raio de atuação e nas áreas de morro o alcance é ainda menor.”

leia o texto completo, clicando no título desta matéria.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Eu quero o meu sertão de volta!

Por Anselmo Alves
j.anselmoalves@hotmail.com

Nos últimos dez anos tenho viajado freqüentemente pelo sertão de Pernambuco, e assistido, não sem revolta, a um processo cruel de desconstrução da cultura sertaneja com a conivência da maioria das prefeituras e rádios do interior. Em todos os espaços de convivência, praças, bares, e na quase maioria dos shows, o que se escuta é música de péssima qualidade que, não raro, desqualifica e coisifica a mulher e embrutece o homem.

O que adianta as campanhas bem intencionadas do governo federal contra o alcoolismo e a prostituição infantil, quando a população canta “beber, cair e levantar”, ou “dinheiro na mão e calcinha no chão” ? O que adianta o governo estadual criar novas delegacias da mulher se elas próprias também cantam e rebolam ao som de letras que incitam à violência sexual? O que dizer de homens que se divertem cantando “vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço de puta pra todo lado” ? Será que são esses trogloditas que chegam em casa, depois de beber, cair e levantar, e surram suas mulheres e abusam de suas filhas e enteadas? Por onde andam as mulheres que fizeram o movimento feminista, tão atuante nos anos 70 e 80, que não reagem contra essa onda musical grosseira e violenta? Se fazem alguma coisa, tem sido de forma muito discreta, pois leio os três jornais de maior circulação no estado todos os dias, e nada encontro que questione tamanha barbárie. E boa parte dos meios de comunicação são coniventes, pois existe muito dinheiro e interesses envolvidos na disseminação dessas músicas de baixa qualidade.

E não pensem que essa avalanche de mediocridade atinge apenas os menos favorecidos da base de nossa pirâmide social, e com menor grau de instrução escolar. Cansei de ver (e ouvir) jovens que estacionam onde bem entendem, escancaram a mala de seus carros exibindo, como pavões emplumados, seus moderníssimos equipamentos de som e vídeo na execução exageradamente alta dos cds e dvds dessas bandas que se dizem de forró eletrônico. O que fazem os promotores de justiça, juízes, delegados que não coíbem, dentro de suas áreas de atuação, esses abusos?

Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantas criaram o forró, não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hoje se multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem o nome forró para a música que fazem. O que esses conjuntos musicais praticam não é forro! O forró é inspirado na matriz poética do sertanejo; eles se inspiram numa matriz sexual chula! O forró é uma dança alegre e sensual; eles exibem uma coreografia explicitamente sexual! O forró é um gênero musical que agrega vários ritmos como o xote, o baião, o xaxado; eles criaram uma única pancada musical que, em absoluto, não corresponde aos ritmos do forró! E se apresentam como bandas de “forró eletrônico”! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzaga já faziam o verdadeiro forró eletrônico, de qualidade, nos anos 80.

Em contrapartida, o movimento do forró pé-de-serra deixa a desejar na produção de um forró de qualidade. Na maioria das vezes as letras são pouco criativas; tornaram-se reféns de uma mesma temática! Os arranjos executados são parecidos! Pouco se pesquisa no valioso e grande arquivo gonzaguiano. A qualidade técnica e visual da maioria dos cds e dvds também deixa a desejar, e falta uma produção mais cuidadosa para as apresentações em geral.

Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração que se acostumou com o lixo musical! Não, meus amigos: não é conservadorismo, nem saudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho! Que o digam Chico Science e o Cordel do Fogo Encantado que, inspirados nas nossas matrizes musicais, criaram um novo som para o mundo! Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual e ao alcoolismo!

Mas, felizmente, há exemplos que podem ser seguidos. A Prefeitura do Recife tem conseguindo realizar um São João e outras festas de nosso calendário cultural com uma boa curadoria musical e retorno excelente de público. A Fundarpe tem demonstrado a mesma boa vontade ao priorizar projetos de qualidade e relevância cultural.

Escrevendo essas linhas, recordo minha infância em Serra Talhada, ouvindo o maestro Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cada um com o seu sax, em verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu do Pajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de volta!


Anselmo Alves é produtor cultural

quarta-feira, 26 de março de 2008

Fumantes ou não

Por Irma Brown
irmaventilador@gmail.com

Boêmios da capital pernambucana foram surpreendidos em fevereiro com a proibição de fumar em bares, restaurantes, boates e outros estabelecimentos do gênero, independente de fechados ou abertos. A lei 9.294 é de 1996, mas só agora foi implantada pela Prefeitura do Recife, proibindo não só o uso como a propaganda de derivados do tabaco em recinto coletivo, privado ou público.

Analisando mais profundamente a lei, parece que estamos regredindo, perdendo o nosso direito de cidadão. Que o cigarro faz mal à saúde, é fato. Mas se isso é justificativa, então vamos proibir o álcool, a batata frita, a coca-cola... e assim por diante. Argumenta-se também que os chamados “fumantes passivos” são os que mais sofrem, por inalarem a fumaça mesmo contra vontade. A simples solução de divisão do ambiente, ou mesmo restrição aos fumantes em alguns estabelecimentos, resolveria o problema, devendo assim ser opcional.

Com a lei não só o cliente fumante sai perdendo, mas os amigos dos fumantes, os donos de bares e restaurantes e o cidadão comum, que perde sua liberdade de direito de escolha. Vale lembrar também que para manter um estabelecimento comercial aberto, se paga funcionários, aluguel, impostos. Há uma diferença aqui entre o público e o privado que precisa ser levada em consideração.

O dono do estabelecimento, portanto, é quem deveria escolher que tipo de cliente gostaria de atender: fumantes, não fumantes ou ambos. E nós, cidadãos comuns, decidimos que lugar freqüentar. Se há fumantes demais, que se invista então em educação, campanhas de conscientização e outras estratégias para descriminalizar o fumo.

Isso lembra também a questão da maconha, um fumo que poderia ser administrado pelo governo, mas que permanece ilegal, ainda, por fatores econômicos e/ou por ignorância. Mas isso já é outra história...

Irma Brown é arte educadora e integrante do Ventilador Cultural

segunda-feira, 24 de março de 2008

domingo, 9 de março de 2008

Mulher Sertaneja

Por Luciana Rabelo
luciana.rabelo@gmail.com

No dia 8 de março de 1857, dezenas de mulheres foram carbonizadas por reivindicarem seus direitos. Na mesma data, sendo o ano 1906, nascia Joana Luiza de Jesus, minha vó, mãe de meu pai, a quem chamávamos de vovó-papai. Apesar de não gostar dessa marcação de tempo ‘gregoriana’, acho bastante simbólico este dia ser lembrado como o Dia Internacional da Mulher, pois pra mim esta data realmente representa a mulher, guerreira por essência.

Este ano faz 102 anos que ela apareceu por aqui. Mulher raçuda, negra, filha do Sertão pernambucano, Joana Luiza de Jesus aos 24 anos engravidou após um namoro com meu avô. Digo após UM namoro porque, pelo que sei, eles se conheceram numa festa em Santa Maria (Tupanaci) – vilarejo pertencente hoje ao município de Mirandiba, onde ela morou desde moça – e ela engravidou. Não sei da vida amorosa dela, o que muito lamento neste momento, pois há dez anos ela se foi pro lugar misterioso e eu nunca conversei com ela sobre esse assunto. O que sei mesmo é que ela é realmente o símbolo da mulher guerreira. Enfrentou todos os preconceitos, lá pelo início da década de 30, num pequeno povoado à beira do rio Pajeú. Para sustentar meu pai ela, analfabeta e cheia de sabedoria, lavou muita roupa nas águas pajeuzeiras. Nunca deixou faltar nada ao menino Zé de Joana.

Apesar de eu sempre ter morado longe dela, sempre a via nas férias. Às vezes (muito poucas) ela vinha estar conosco na capital, e outras (mais freqüentes) íamos a Santa Maria vivê-la. Uma das coisas que muito me admirava quando chegávamos lá era o rio. Isso porque para chegar à vila, tínhamos que atravessar o Pajeú. Quando ele estava seco, o carro passava. Às vezes estava com pouca água e dava pra passar, mas lembro que eu ficava com medo vendo o carro ‘nadar’. Quando o rio tava cheio, tínhamos que deixar o carro do lado de cá e atravessar andando, com as coisas na cabeça. E era muita bagagem, porque sempre minha mãe levava muitas roupas para dar, além de brinquedos, balas, biscoitos. Aventura boa!

O que mais tinha por lá era criança. E eu pequena passava o tempo todo a brincar com meu povo. Era outra realidade. Eu menina da cidade, sempre tendo morado em prédios, vida classe média, lá encontrava o mundo natural. Nós, quando chegávamos, éramos a atração do povoado. Os jovens logo corriam pra procurar meus irmãos mais velhos. As crianças vinham a mim e a minha irmã. E os senhores e senhoras iam depressa rever mainha e painho. Minha vó era só alegria.

Pois é, às margens do Pajeú, escondido no Sertão pernambucano, existe um dos lugares mais lindos que já vi. Onde ninguém imagina que haja vida humana, tá lá, um monte de criança, velhos e jovens ardendo no sol quente, nadando no rio, tangendo gado, comendo bode e galinha, ‘tomando umas’ nos dois ou três botecos, sentando na praça, indo à igreja, vivendo a Natureza.

A casa da minha vó é daquelas que tem uma portinha de madeira dividida no meio, onde só a parte de baixo fica fechada pros bodes, cachorros, gatos, galinhas não entrarem. Na calçada, cadeiras de balanço, daquelas de tiras de plástico e que balançam mesmo. Eu até às vezes tinha um certo medo de virar pra trás de tanto que a cadeira emborcava. A água para beber tirávamos com um caneco de alumínio de dentro de grandes potes de barro. A comida, temperada com muito coloral, era feita num fogão de barro. Se não me engano era a única casa que tinha banheiro, pois meu pai havia mandado dinheiro para construir. Lembro muito também do papagaio. Era bem falante e morria de ciúme da minha vó. Meu pai conta que ganhou ele quando era moço. Então, nesta época, o papagaio já era ‘meio veínho’. Ele falava: ‘Joana’ e ‘ô de casa?’.

A gente sempre ia pra lá na festa da padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Era um festão. Vinha gente das vilas e municípios vizinhos, Serra Talhada, Floresta...Uma das atrações - fora a missa e a procissão – era o leilão que ocorria na frente da igreja. Leiloava-se de tudo, manteiga, ovo, cachaça, galinha...Eu ficava assistindo o leilão inteiro. Tinha também um bingo. Uma vez, quando eu já era adolescente, eu ganhei o prêmio máximo: um bode. Eu não quis nem ver o bode, porque logo que eu o ganhei acertaram de comer uma buchada no dia seguinte. Fiquei morrendo de pena e preferi não conhecê-lo, nem comê-lo. Se fosse hoje em dia não deixaria matá-lo não.

Quando chegava o momento de minha mãe distribuir os doces e brinquedos era fantástico. Eu logo me escalava pra entregar as sacolinhas para as crianças. Era linda a alegria delas. Uma fila imensa se formava em frente à casa da minha vó. Não sei de onde surgia tanta criança. Todas saíam satisfeitas.

Relembro claramente uma vez que fomos pra lá no feriado da Páscoa e presenciei uma brincadeira, que era ‘malhar o Judas’. Eu era pequena e não entendia. Tinha muito medo. Só via homens correndo atrás de outros homens com um boneco e achava tudo muito violento. Mesmo as pessoas me falando que era brincadeira, não achava que fosse. Não gostava.

O momento triste da nossa viagem era, exatamente, na hora da despedida. A gente se ia, com um nó na goela e no peito, e ela ficava em pé na calçada chorando.

Hoje entendo muito bem porque minha vó nunca quis sair de lá, mesmo quando estava doente. Vivia humildemente, mas com verdade, com naturalidade, pisando na terra, fumando seu cachimbo, abençoando as centenas de afilhados, se balançando na cadeira na calçada em frente de casa.

Sempre que a gente tomava a benção a ela, ela dizia: Deus te dê fortuna! E temos recebido realmente muita Fortuna ao longo dessa vida. Ela se foi tendo o maior sonho da vida dela realizado: ver o filho vencedor nesse mundo de tantas contradições.

Luciana Rabelo é jornalista, poeta, educadora e integrante do Ventilador Cultural

terça-feira, 4 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher

Por Fabiana Jansen (Coletivo Mulher Vida)

Mais do que receber flores, para o movimento social o Dia Internacional da Mulher é um dia de luta contra a violência doméstica, sexual e sexista, e de protestos e reivindicações pela garantia de direitos da mulher. É com esse espírito que o Coletivo Mulher Vida realiza em Olinda, no dia 7 de Março, uma passeata cujo mote é “Violência Doméstica Contra a Mulher: A Saúde Deve Meter a Colher”. A concentração será às 8h na Praça do Fortim, e a saída às 9h pela Av. Getúlio Vargas, rumo ao Banco do Brasil, no Bairro Novo.

O evento, realizado em parceria com a Prefeitura Municipal de Olinda, Programa Bolsa Família, Nupav, Programa Municipal de DST/Aids de Olinda, Secretária da Saúde da Mulher de Olinda, Olinda Jovem e Fórum de Mulheres de Pernambuco, visa chamar a atenção da sociedade para alguns fatores que contribuem para a perpetuação da violência doméstica contra a mulher. A falta de notificação desse fenômeno pelos profissionais de saúde é um desses fatores, além do aumento dos casos de DST/Aids entre mulheres, tendo como uma das causas a violência doméstica. A passeata também ressalta a importância da realização de capacitações aos profissionais de saúde, que muitas vezes por medo, falta de informação ou entendimento do fenômeno não investigam a violência e nem a notificam.

A Passeata pelo Dia Internacional da Mulher pretende reunir centenas de pessoas, entre elas adolescentes, jovens, mulheres, educadores e educadoras que munidos de panfletos, faixas e carro-de-som realizarão um protesto pacífico que terminará numa grande roda em frente ao Banco do Brasil, visando parar por alguns momentos o trânsito da cidade. Essa iniciativa busca sensibilizar as pessoas mostrando que o problema da violência doméstica não diz respeito apenas às mulheres ou aos movimentos sociais e muito menos que tem que ser resolvido apenas no âmbito privado, pelo contrário, é uma questão de Saúde Pública que envolve todos os setores da sociedade.

Serviço:
Evento: PASSEATA PELO DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Tema: “Violência Doméstica Contra a Mulher: A Saúde Deve Meter a Colher”
Data: 07 de MARÇO – sexta-feira
Concentração: 8h, na Praça do Fortim, em Olinda
Saída: 9h, pela Av. Getúlio Vargas, rumo ao Banco do Brasil, no Bairro Novo
Informações: 3431.1196 / 3432.3265

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Vídeo da Teia

Confira na coluna de vídeos à direita o vídeo feito pelo Ventilador Cultural na Teia 2007, em Belo Horizonte.