terça-feira, 17 de junho de 2008

Onde está o muro?

Por Irma Brown

irmaventilador@gmail.com

Recentemente estive visitando as cidades de Santiago do Chile e Valparaíso, esta última fica a uma hora e meia da capital. O Chile é uma terra de contrastes geográficos “muy grandes” e “muy lindos”. E olhe que eu não conheci quase nada! Caminhando pelas ruas de Santiago, com sua arquitetura colonial e moderna, enxergamos a cordilheira dos Andes em diversos ângulos. Já Valparaíso, é uma cidade portuária e cheia de cerros, conhecida também pela concentração de artistas. É meio Olinda (forçando a barra um pouquinho).

Para o brasileiro que sai à noite, chama a atenção o fato de não ser permitido beber nas ruas, e os estabelecimentos só podem vender bebidas até meia-noite durante a semana e 3h da manhã no fim de semana. Portanto, eu que estava dançando loucamente numa boate, fui surpreendida quando as luzes acenderam de repente e todos foram convidados a se retirarem. Para os inconformados restam os “afters”, os bares clandestinos.

É um país bastante conservador. Com sua maioria de católicos, guardam hipocrisias elitistas. O divórcio, por exemplo, só foi permitido no ano passado. Antes era “anulacion”, como se o casamento não tivesse existido. Claro que os chilenos não são os únicos, influências do catolicismo, boas e más, sofremos todos, todavia lá me pareceu mais forte.

Diferente do Brasil, que concentra sua riqueza entre o sul e sudeste, o Chile consegue manter aparentemente um equilíbrio econômico entre suas regiões. Existem dificuldades similares às nossas, como a desigualdade social e o monopólio das comunicações, mas não se vê tanta violência e pobreza nas ruas. Se vê protestos, isso sim. Mesmo sofrendo repressão dos carabineiros, os estudantes saem às ruas lutando por uma educação mais justa; também a polícia não é tão corrupta como a nossa. A lembrança da ditadura é muito forte e presente, fazendo dos chilenos um povo patriota e bem mais engajado politicamente que a gente.

Talvez pela dimensão do Brasil e por falarmos uma língua diferente, nós, os gigantes da América Latina, ainda permanecemos isolados dos nossos queridos vizinhos. Como no resto do mundo, somos conhecidos por sermos um povo alegre, que joga futebol e tem mulheres bonitas; portanto “bienvenidos” entre os chilenos. O que não acontece com os peruanos, que herdam preconceitos sofridos pela guerra do pacífico (assim como os bolivianos) e buscam no Chile novas oportunidades, mas muitas vezes acabam ficando à margem da sociedade.

De qualquer forma, existe sim um interesse mútuo e latente entre nós (latinos) na troca de conhecimento e cultura. Já cansamos de olhar pra cima! A troca pode ser lado a lado; e é necessária. Temos um sentimento de solidariedade por enfrentarmos dificuldades comuns em um continente que é o irmão mais novo, e que sempre dança. Mas até que a gente dança parecido.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Cazá, cazá, cazá, cazá, cazá...

Por Luciana Rabelo

luciana.rabelo@gmail.com

Não sou muito de futebol. Já torci em algumas copas do mundo, mas as últimas duas – principalmente a última – não estava nem aí. Tava era com um abuso grande de tudo relacionado à Copa. Só conseguia enxergar o lado comercial e nada mais. Não entendia como o povo podia ser tão besta pra parar suas vidas por conta daquilo.

Pois bem, ontem algo de estranho comigo ocorreu. Quando saí de casa de manhã rumo ao trabalho, liguei o rádio do carro e comecei a ouvir as expectativas para a final da Copa do Brasil. O Sport e o Corinthians se enfrentariam na Ilha do Retiro, no Recife. No caminho já peguei um engarrafamento porque me encontrava justamente na rua do hotel onde o pessoal do Corinthians estava. Lá na frente do hotel um grupo de paulistanos se exibiam vestidos com as cores de seu time. No rádio, escutava entrevistas com alguns paulistanos irados porque, segundo eles, o Sport havia disponibilizado poucos ingressos para torcida do Corinthians.

Comecei então a me indignar. Por que lá na casa deles eles podem fazer o que querem e aqui chegam cheios de ‘goga’, dizendo que vão entrar de qualquer jeito e tal. Eu que nunca fui a um estádio de futebol, e que - apesar de dizer desde criança ser torcedora do Sport – nunca me interessei em acompanhar os jogos, começava a sentir uma imensa ansiedade e vontade de que o Sport vencesse o Corinthians, ou melhor, que o Nordeste vencesse o Sudeste.

Na hora do almoço, em companhia de minha amiga Patrícia (esta rubro-negra ‘doente’) passamos em frente a uma loja de roupas e lá estavam expostas diversas camisas do Sport. Imediatamente me deu vontade de comprar uma. Patrícia, claro, mesmo sem dinheiro, topou na hora comprar uma também. Já saímos de lá paramentadas.

O resto do dia fiquei acompanhando pelo rádio a movimentação em torno do jogo. O Recife tava pegando fogo, havia de fato uma energia diferente no ar e nas ruas. Quando cheguei em casa, meu filho de 1 ano me recebeu, inocentemente, com a roupa do Sport.

Chegou a hora do jogo. Meu coração tava doido. A partida começou, mas eu não conseguia ouvir a torcida. Claro, assistia a TV Globo! Incrível, mas eles ousavam dar mais destaque à torcida do Corinthians (com menos de 1500 torcedores) do que à do Sport, com mais de 33 mil torcedores rubro-negros. Mudei de canal, mas, sinceramente, também não gostei da transmissão da Band.

Minha alegria começou a aumentar logo após o início do jogo, pois era evidente a superioridade do time pernambucano na partida. Praticamente o tempo todo com a bola nos pés, os rubro-negros se garantiram e fizeram os dois gols que precisavam para ganhar a partida logo no primeiro tempo. Fiquei parecendo uma abestalhada, pulando e sorrindo, e sem poder gritar pra não acordar o pequeno rubro-negro que dormia. Mas ele acordou!

Meu companheiro, que é do Paraná e torce pelo Inter, já vinha acompanhando a campanha do Sport e, aqui pra nós, nunca vi ele torcendo tanto nem pro Colorado, como torceu ontem pro Sport.

No segundo tempo, toda vez que o Corinthians pegava na bola eu saía de frente da televisão, tamanho era o meu nervosismo. Por fim, vitória nossa. Em todos os sentidos.

Hoje acordei, catei a blusa do Sport, vesti e fui trabalhar como uma autêntica rubro-negra. Não fui só eu. Pernambuco se vestiu de vermelho e preto e o hino do timão pernambucano ecoava em tudo que é buzina. Na rua, a cada dez metros se via, sem exagero, pelo menos, uma pessoa com a roupa do Sport. Foi lindo!

Quando cheguei no trabalho, no quadro de aviso encontrei escrito por minha chefa, Amara Cunha :

“O Corinthians caiu na Ilha e se ... ‘perdeu’!

Os gaviões quebraram o bico

Na muralha do Magrão

E a fiel não segurou a força

E a raça do Leão.

É campeão! É campeão!

Só rubro-negro pode sentir essa emoção!!!

Sport, Sport, Sport!”

Ao chegar em casa, li e-mail do amigo alvi-rubro Jorge Filó, que, dizendo-se orgulhoso do Sport, cordelizou:

“O Sport pernambucano
Time de grande altivez
Sempre lutou bravamente
Chegou então sua vez
Mostrando que paulistano
De Pernambuco é freguês.

Política e futebol
São os calos paulistano
Na política perderam
Lula é pernambucano
E o Sport lascou
O time corintiano.

Bufe quem quiser bufar
Que a Rubro-negra nação
Vai fazer a sua festa
Vibrando com o coração
Mesmo que esta não seja
Vista na televisão.”